terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Numa mesa de boteco, um quê de introspecção.

Gravura - Autor desconhecido

Noite fria de domingo. Visto uma roupa qualquer, pego um casaco e vou. Bar de sempre. As pessoas de sempre. Tudo me parece igual, mesmo após eu ter me ausentado por um tempo considerável. A única diferença se limita à um atrativo que, o dono do estabelecimento considedou viável para entreter os seus clientes, um tal de cultural game... Para mim soaria melhor se estivéssemos no verão, mas enfim, vale a tentativa.
Tudo me parece igual: pseudo-intelectuais sentados em mesas com quatro cadeiras, músicos inquietos e suas garrafas e cigarros acesos, idealistas mal vestidos encostados nas muretas discutindo algo possivelmnete relevante à realidade brasileira, meninas com as pernas a mostra bebendo algo adocicado, a espera de homens interessantes, representantes do heavy metal à parte, no chão, gritando algo ininteligível.
E lá estou eu, participante do barulho, das risadas altas, da fumaça e do álcool. Interlocutora dos assuntos banais, que depois de um tempo não comunicam mais. Discretamente me coloco à parte. Deixo os meus, e me ponho a observar. E observo.
Analogicamente penso em ilhas. Ilhas de conhecimentos não compartilhados. Olho a diversidade dos grupos que interagem perfeitamente em harmonia. Harmonia individualizante. Comunicam aos outros o conhecimento que adquiriram e a experiência que possuem. O artesão discorre sutilmente como a arte hoje em dia é valorizada, dando bons resultados financeiros. Defende que essa é a saída. O idealista, defende que deixará todas as suas paixões de lado, para defender a sua causa, porque essa é a saída. O arruaceiro quer usufruir de todas essas paixões e cerca as meninas receptivas ao seu charme, porque o sexo, ah o sexo é a saída! O solitário, busca na cerveja socializar-se porque o contato com o outro, é a saída.
Meio ao movimento, observo ilhas. Ilhas fortemente constituídas de história pessoal. Ilhas que compartilham com as outras, mas que carregam intimamente crenças, sentimentos e anseios que guiarão seus passos e seus caminhos. Interagem, comunicam, expalham-se...serão tocadas por outros ventos, outras aves...mas ainda assim, serão ilhas!
Devaneios demais para um domingo a noite...Esqueço brevemente às analogias e acendo um cigarro. Logo, os grupos se dissipam...pego minha bolsa e vou embora.

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