quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Personalidade Ciclóide.

Não gosto de psicólogos. Pra mim eles são incrivelmente chatos, sem falar que, aquela postura de suposto saber é artificial e pragmática, por isso prefiro mil vezes me misturar com antropólogos, historiadores e sociólogos, que são muito mais interessantes para horas de conversas a fio. Entretanto quis o destino que eu me apaixonasse pela ciência psicológica e consequentemente fizesse parte desse nicho de chatos. Me tornei psicóloga.
Me fascina o ser humano e suas vicissitudes. As patologias, os processos, as estruturas. As escolhas, os valores, a moral. Mas nunca pensei em usar da psicologia para me compreender: o outro sempre me foi mais interessante, as manifestações culturais, grupais, individuais, patológicas, criminais, sócio-históricas. Isso sim é extraordinário!
Quanto a mim, vou bem obrigada. Mais uma entre tantos. Trabalho, como durmo, choro, rio, saio, namoro, transo, assisto, xingo, bebo, fumo. Entretanto algumas características, para mim normais, começaram a incomodar os meus e comecei a notar que talvez nem tudo ia bem assim:

- Irene você cheirou alguma coisa?
- É óbvio que não!
- São quatro da manhã, você não tem sono?

Não, não tenho. Aliás, das dez da noite às três da manhã fico logorréica e não sinto nenhum sono. Quero falar, contar, ler, pesquisar, escrever, assistir, tudo ao mesmo. Comecei a ler nessa semana cinco livros de uma vez só. Assim são minhas noites. Acordo as sete da manhã de muito bom humor, mas ele varia com o passar das horas, que vai de uma leve agressividade e intolerância à uma grande explosão de risos. Não gosto conversar das 14h às 16h. Fico introspectiva e de mau humor. Geralmente deprimo e choro um pouco. A vida não tem nenhum sentido e de repente passa a ter denovo!

Descobri que nem todo mundo é assim ( parece óbvio!) e resolvi ver um colega de nicho. Junguiano, jovem, brilhante. Nada tem de chato, apesar de ficar visivelmente sem ação quando me encontra no supermercado ou em qualquer outro lugar fora do divã. Coisas de analista.
Com alguma terapia chegamos a um veredicto: F34.0 sem necessidade de moderador de humor.

- Puta que pariu, além de tudo uma doença da moda. Esse modo de vida deve ter criado em mim e em outros tantos essa patologia sem controle e...
-Quer falar sobre a negação ?
- Não! Quero falar sobre a cultura.... Ok falemos sobre a negação...

Devo ter feito o curso errado. Odeio psicólogos!

Um comentário:

Alice disse...

Olá, Irene. Sempre tive o humor instável. Na adolescência, ou eu estava super obsessiva cumprindo à risca minha lista de tarefas; ou estava irritadíssima, revoltada, gritando e batendo portas; ou estava fechada no meu quarto chorando e escrevendo poemas melancólicos. Depois disso aprendi a controlar minhas crises de agressividade, mas continuei a sentir "raiva". Ficava super empolgada com coisas novas. Às vezes, ficava melancólica. Depois disso, passei anos tendo "crises de depressão". Acho que pelo menos uma vez por semana... seguramente, uma vez no mês, eu ficava jogada na cama, chorando, me achando a pior pessoa na Terra. Nos dois últimos anos, notei um ciclo mensal no meu humor e na minha capacidade de concentração/cognição e passei a ter enxaquecas. Consultei um neuro e vários ginecos. Cheguei a pensar que era TPM, embora durasse uns 10 a 15 dias. Em 2012, fiquei uns 4 meses com a cabeça funcionando maravilhosamente bem! E depois voltou ao ciclo da dispersão. Procurei um psiquiatra, na época, estava sem tempo pra terapia. Ele me deu bupropiona. Consegui me sentir melhor até meados do ano passado, quando ele baixou a dose e voltei a ficar chorando, sem vontade de fazer nada, deprimida. Procurei outro psiquiatra, que manteve a bupropiona e levantou a hipótese de ser Ciclotimia. Agora estou "em observação", mas ainda tomando bup. Tenho tido muitos episódios de ansiedade, seguidos de cansaço brutal. Outro dia, fiquei angustiada porque meu marido não chegava, o abracei chorando quando ele entrou e, alguns segundos depois, comecei a rir de mim mesma. Enfim, estou muito confusa. Tenho medo de não estar me percebendo corretamente e dar respostas erradas à minha psiq e psico e o diagnóstico não ser preciso. Às vezes, acho que não tenho nada e fico em pânico ao pensar em ter que tomar algum estabilizador de humor. Outras vezes, me convenço de que sou ciclotímica, sem dúvidas. Gostaria de conversar com alguém que sofre desse mesmo... transtorno, trocar experiências, tentar entender melhor, etc. Abraços, Ana.