quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ela.

Magritte

De longe eu a observava. Seus movimentos pareciam vindo de um transe e traduzia sua vontade de integrar-se àquela massa disforme de rostos e pessoas. Os movimentos que ela fazia com o corpo e com os cabelos, eram comuns para a maioria que nos rodeava, todos faziam o mesmo, seguindo o som grave dos surdos e dos batuques do maracatu. Mas ela tinha algo mais: tinha graça, uma beleza indiscreta e sedutora, incenava num palco imaginário seus encantos e sua feminilidade, como se não houvesse nada mais ao redor.

Mas eu via além do belo espetáculo da beleza que fora vendido. Via incenado no seu palco, angústia. Ouvia o grito silenciado dos seus anos sofridos, das suas dores contidas, dos seus medos guardados e o vazio da graciosidade dispensada aos homens que a rodeava com desejo. Via na indiscrição da sua dança, pedidos discretos de ajuda.

Queria tê-la por perto. Não conseguia mantê-la ao meu lado, ninguém conseguia. Era um espírito livre que fazia um esforço tremendo para fazer parte de algo, e um maior ainda para ser alheia a ele.
E de longe eu a observava, linda, sedutora, triste. Tão longe de mim, tão distante de sí.

Um comentário:

Bruna M.Correard disse...

Coinheço uma garota tão peculiarmente parecida com a "personagem" por você descrita!
Gostei dos textos, poemas...seu blog foi indicado por um conhecido, do blog A margem oposta...ele comentou que você é psicóloga...faço psicologia! : )
beijo.